Venham todos à minha escola

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15.09.2017 - 00:00:00 | 6 minutos de leitura

Venham todos à minha escola

Hoje quero conversar com vocês sobre uma passagem muito linda e consoladora do Evangelho. Vamos abrir o Evangelho escrito por Mateus (11,25ss). Mateus já havia nos contado que Jesus percorria as cidades e aldeias. Uma grande multidão o seguia e escutava com alegria a sua mensagem porque Ele era diferente e trazia uma nova esperança. E Mateus nos diz que Jesus, vendo a multidão, ficou tomado de compaixão porque estavam enfraquecidos e abatidos como ovelhas sem pastor (Mt 9,36).

O Povo ficou entusiasmado com o novo pregador porque ele não ameaçava, não condenava. Falava de um novo Reino. Dizia que Deus Pai o havia enviado para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, para pôr em liberdade os prisioneiros, para publicar o ano da graça do Senhor.

Surgia uma nova esperança no coração de todos. A grande maioria das pessoas não sabia ler e não tinha ninguém que se interessasse por ela, para ensinar-lhe o caminho de Deus. Os mestres da Lei oprimiam o povo e diziam que aquela gente toda estava perdida. Além dos dez mandamentos (que nós já temos dificuldade para decorar), eles conseguiram criar outros 613 mandamentos. Eram 248 prescrições e 365 proibições, coisas que não se devia fazer. Não sou entendido em anatomia, mas eles diziam que 248 era o número dos ossos do corpo humano e 365 os dias do ano. Então estes mandamentos deviam ajudar as pessoas amar a Deus com todo o seu ser e durante todos os dias do ano.

Todos estes mandamentos tinham o mesmo peso, desde o mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas até a maneira de lavar as mãos e os copos. Nenhum deles poderia ser transgredido sob pena de condenação. Vocês já imaginaram a dificuldade de um analfabeto para decorar 613 mandamentos. Por isso, Mateus nos dizia que Jesus teve compaixão deste povo que andava enfraquecido, desanimado, abatido como ovelhas sem pastor.

E quando aparece alguém que prega de maneira diferente, que os acolhe e começa a prometer solução para seus problemas e sofrimentos, todos correm atrás dele. Começaram a perceber que o novo mestre se interessava por eles, se preocupava com seus problemas e estava sempre disposto a ajudá-los. Tudo o que era importante para aquele povo era também importante para Jesus.

E um dia Jesus falava do seu Pai e dizia que tinha vindo para contar a todos como era seu Pai. Falava que o Pai era muito bom e o havia encarregado de revelar o seu rosto amigo aos simples e humildes. Dizia a todos que o Pai os amava e que ele (Jesus) tinha vindo para trazer uma nova esperança a todos e a certeza de que Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Havia salvação também para aqueles que não sabiam ler e não conseguiam decorar todos aqueles mandamentos que os seus mestres haviam inventado.

Falou ainda que fora enviado para livrar a todos dos pesados fardos que os chefes haviam posto nos seus ombros. E dizia: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos e sob o peso do fardo, e eu vos aliviarei. Tomai o meu jugo sobre vós e entrai na minha escola, porque eu sou manso e humilde de coração, e achareis repouso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e meu peso leve”. Depois tirou o pesado fardo dos ombros destes pequeninos do Povo de Israel. Podemos imaginar Jesus falando assim: “Vocês não precisam mais ficar preocupados em decorar todos estes mandamentos. Nós vamos fazer um resuminho bem fácil de aprender. Lembrem-se apenas destes de dois mandamentos. Primeiro: ‘Amar a Deus sobre todas as coisas’. Segundo: ‘Amar o próximo como a si mesmo’. Isto basta. Quem observa estas duas coisas, não precisa mais de mandamentos”.

O convite para entrar na sua escolinha não era tanto porque ele estava ensinando a verdade e os mandamentos que todos deviam seguir. “Entrem na minha escola porque eu sou bom, sou manso e humilde de coração”. Todos são convidados a entrar na escolinha de Jesus porque Ele é bom, tem um Coração para os que sofrem, para os que precisam de um Pastor para guiá-los, de um Mestre para orientá-los. Todos nós somos convidados a entrar na escola de Jesus. Através de suas palavras e ações descobriremos a bondade, a misericórdia, a compaixão e a ternura. Jesus vê (é alguém que enxerga os outros), sente com o coração e ama. Os evangelistas querem mostrar que Jesus tem um coração para nós. Sempre vão repetindo: Ele teve compaixão e fez isto, teve compaixão e fez aquilo...

Em Marcos 6,34 nós lemos que Jesus teve compaixão e pôs-se a ensinar-lhes muitas coisas. Talvez a tradução mais exata desta passagem seja: “Pôs-se a ensiná-los com muita paciência”. Jesus foi muito respeitoso com a situação deles e com a dificuldade que tinham para aprender.

Mateus (15) escreve que Ele teve compaixão e multiplicou o pão para o povo faminto. Lucas (15) anota no seu Evangelho que ao ver o filho que retornava, o coração do pai se enternece e ele é tomado de compaixão. Corre ao encontro do filho o abraça e beija. Em seguida manda fazer uma grande festa. Tenta convencer o filho mais velho de que era absolutamente necessário fazer festa pelo retorno filho menor e pecador.

O sofrimento dos doentes atingia o seu Coração e Jesus curava a todos. Também aqui, Mateus anota no seu Evangelho que Jesus é tomado de compaixão (Mt 20, 30-34). Tocado pela dor de uma mãe que perdera seu único filho, manda parar o cortejo fúnebre de Naím, e devolve o jovem à sua mãe (Lc 7, 12-16). Chora junto ao túmulo do amigo e ressuscita Lázaro (Jo 11,35).

Jesus sempre nos espera de coração aberto: “Vinde a mim todos...”. Ele tem um coração aberto para todos os que encontra em seu caminho. E isto se manifesta de modo definitivo na sua doação final, na sua morte por nós.

Parece-me que aí está o nosso desafio para o dia a dia de nossa vida. Parece ser o caminho para aqueles que desejam jogar toda a sua vida numa espiritualidade do Coração, para os que ainda acreditam no amor de Deus e na bondade de seus irmãos e irmãs. Somos convidados a sentir as necessidades, os sofrimentos e as alegrias dos outros como nossas, a ir ao encontro de todos, sem medo dos riscos e sem receio de jogar tudo. Se quisermos ser devotos do Coração de Jesus não podemos jogar pela metade nem calcular demais as medidas de nosso amor.

P. Francisco Sehnem, scj

 

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