O Tempo dos Porquês

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20.07.2024 - 11:00:00 | 4 minutos de leitura

O Tempo dos Porquês

Historicamente, o ser humano possui, dentro de si, o desejo de saber o porquê do funcionamento do mundo e das coisas. Nos séculos passados, houve momentos nos quais se questionava mais ou menos a respeito dessas coisas. Quando se questinou menos, a tendência foi de se aceitar as coisas exatamente como estavam acontecendo.

No campo religioso, não é muito diferente. Existiram momentos em que os bons fiéis da Santa Igreja buscavam saber retamente quais eram os desejos da Igreja para o povo de Deus ir ao céu e alcançar a santidade. Em um passado bem próximo, os padres possuíam grande poder de aceitação em suas palavras. É fácil de se encontrar um idoso que não sabe o porquê de estar fazendo ou não determinado ato e, ao questioná-lo, muito facilmente a resposta será porque um padre algum dia disse que deveria ser assim, que ensinou em uma homilia ou mesmo em uma conversa simples. As palavras de um sacerdote católico eram acatadas como lei.

Nos tempos atuais, os jovens estão entrando em um mundo que as palavras simples do sacerdote não estão sendo aceitas somente por serem de um sacerdote. Os jovens querem saber o porquê de cada coisa, querem saber o motivo da Igreja ter determinada doutrina, posicionamento político e ideológico.

Os mandamentos são as maiores leis que a Igreja possuiu e o melhor caminho para o povo de Deus chegar ao céu.  Entretanto, os fiéis, principalmente os mais jovens, não aceitam os mandamentos somente pelo motivo de o padre falar ou a catequista ensinar; eles querem saber os motivos práticos e teóricos para ser de uma ou de outra forma, querem saber as minúcias de cada mandamento. O mesmo acontece com a tradição e o magistério da Igreja.

Muitas vezes, os Sacerdotes e Religiosos não estão se preparando e buscando o aprendizado necessário para responder aos questionamentos dos jovens na Igreja. Quando um jovem é instruído e ensinado da maneira correta do porquê de a Igreja pensar e agir do modo que faz, ele se torna um fiel consciente e que apoia a Igreja; mas, se não instruído, facilmente para de frequentar a Igreja ou mesmo muda de religião.

Nos tempos atuais, mais do que nunca, se deve mostrar para os adolescentes e jovens o motivo de se ter dado um sim para a vida religiosa e para os votos, saber concretamente porque se tem os votos e explicar que, por exemplo, o voto de pobreza é muito mais do que não ter dinheiro e o voto de castidade é mais do que a privação do ato sexual. E assim mostrar que a vida religiosa é um dos meios de se chegar à plena felicidade e à santidade.

Quando se busca o porquê das coisas, começa-se a saber os motivos dos acontecimentos da vida e, assim, com a devida ajuda, consegue-se ver a mão e a providência de Deus agir. Um católico não tem uma vida mais fácil por ser um católico, mas tem um entendimento diferente das dificuldades e sofrimentos da vida. Padre Dehon, para ajudar seus religiosos, escreve, no Diretório Espiritual, que, como São João, devemos beber o cálice que Jesus bebeu, sendo tanto o cálice da última ceia, onde hauriu o amor do Coração de Jesus, quanto no Calvário, onde, com sua compaixão, participou nos sofrimentos de Jesus e, mais tarde, haveria de sofrer a perseguição, as torturas e o exílio. Sendo assim, deve-se aprender a viver as alegrias de Cristo Jesus, mas também os sofrimentos de ser um seguidor fiel aos seus ensinamentos.

Um religioso que quer aprender os porquês de Deus deve ser pequeno, humilde e ouvinte, pois Jesus nos exorta que o Pai revela seus desígnios e ensinamentos aos pequeninos e não para os sábios e arrogantes. Um bom religioso dehoniano busca na oração, meditação, adoração e contemplação saber a vontade de Deus para sua vida, vocação e para o caminhar de sua comunidade religiosa.

Busquemos saber o porquê de Deus para as nossas vidas e vocações.

Fonte: Fr. Erik Patrik Fantini, SCJ
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