Impressões sobre o XXV Capítulo Geral

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08.07.2024 - 11:00:00 | 5 minutos de leitura

Impressões sobre o XXV Capítulo Geral

Acredito que tenha sido quando estava cursando o Ensino Médio, no seminário Instituto Dehonista, em Curitiba, no ano de 1991, quando rezamos pela primeira vez pelo Capítulo Geral daquele ano. Àquela época, então um jovem seminarista, não imaginava o que era um Capítulo Provincial, muito menos o que seria um Capítulo Geral da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus. Mas enfim, rezamos. Por isso, desde a indicação para me fazer presente no XXV Capítulo Geral, a curiosidade, a preocupação, bem como a oração, se fizeram bem presentes. E isso tem uma razão. O Capítulo Geral, acontecido na Casa Geral da Congregação, em Roma, de 16 de junho a 5 de julho de 2024, teve como tema “chamados a ser um em um mundo em transformação” e o lema “Para que eles creiam” (Jo 17, 21). Pelo tema proposto, logo se percebe que um dos objetivos principais a ser refletido foi o da comunhão (Sint Unum).

A Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus celebrou, recentemente, 146 anos de fundação. Nesse quase um século e meio de existência, a Congregação SCJ passou por várias mudanças para estar em sintonia com sua época e seu tempo. Como ensina o dito popular, a cada época, suas exigências e necessidades. Com a Congregação, não foi diferente. Pe. Dehon soube discernir os sinais dos tempos, na escuta atenta aos apelos do Espírito, em sintonia com a Igreja. E a congregação cresceu.


Hoje, estamos em mais de 40 países e a diversidade de línguas, etnias e culturas se faz uma realidade visível para todos. O Capítulo Geral procurou congregar (Sint Unum) representantes dos quatro continentes, onde a Congregação se faz presente.  O primeiro desafio já se apresentava quando tentávamos dar um simples “bom dia” para os colegas não brasileiros. Ao todo, éramos 78 representantes das diversas regiões ao redor do mundo onde a Congregação se faz presente. Encontramos representantes de língua portuguesa que fizeram com que nos sentíssemos mais “em casa”, ainda que fora do Brasil; a língua portuguesa tem suas especificidades. O desafio aumenta consideravelmente quando nos sentávamos à mesa com os asiáticos, os do continente africano e também com os europeus. Como “puxar” um assunto com alguém que fala uma língua tão diferente da nossa? Para essas situações, muito se faz necessário o uso da língua inglesa, ou, para quem já esteve em Roma, o uso da língua italiana para a comunicação ou ainda, alguns gestos que indiquem o que você deseja.

Os trabalhos no Capítulo aconteceram todos os dias, divididos em momentos de oração, assembleia, trabalhos em grupos e celebrações. Aos fins de semana tirávamos o tempo para descansar e/ou nos ocupar com as coisas das nossas Províncias de origem. Claro, também havia tempo para ir até o Vaticano, que está a 20 minutos, numa caminhada não muito lenta, da nossa casa.

Os grupos de trabalho estavam divididos por língua de origem, para facilitar a comunicação de todos. Então tínhamos o grupo Francês, 2 de Inglês, Espanhol, Italiano e Português. Todos os dias nos reuníamos para debater os temas a serem enfrentados no decorrer do período. E o mais interessante acontece depois na assembleia, quando os secretários de cada grupo partilham o que cada qual refletiu em sua respectiva língua. Após a partilha dos secretários, os membros da assembleia podiam se manifestar. Todos concordam com todos? Não! Porém, aqui o discordar, não era criar inimigos, mas aprender com o outro, a tentar ampliar a ideia de cada um, para que a unidade pudesse prevalecer para além das barreiras continentais e culturais.

Inspiradora foi, sem dúvida, a audiência que tivemos com Papa Francisco, no dia 27 de junho. Sua visível fragilidade fica em segundo plano, quando contemplamos seu rosto alegre e receptivo para com a comitiva SCJ. É a mensagem principal: a capela é o lugar mais importante de nossas casas. Nada pode estar em primeiro lugar! Inspirado por Francisco, o Capítulo seguiu sempre num clima harmonioso e sinodal.


No início da semana passada, tivemos a oportunidade de conhecer dois colegas que vieram de experiências missionárias iniciadas nos últimos três anos: uma experiência da comunidade Nimega, na Holanda, e outra de Trondheim, na Noruega. Experiências novas iniciadas por colegas entre 35 e 70 anos, para dizer que, para os herdeiros do carisma recebido por Dehon, a missionaridade não tem idade e nem tempo de aposentadoria. A missão sempre será um convite a ressoar incessantemente no coração de todo dehoniano. As duas áreas de missão referidas acima apresentam os desafios iniciais de qualquer trabalho missionário: trabalhar em equipe, lidar com o clima e conhecer a cultura local. Os colegas SCJ estão muito bem, pedem orações e mais colegas para ajudá-los.

Enfim, nota-se que, para um mundo fragmentado por tantas situações que o próprio ser humano criou, o dehoniano deverá ser aquele que, com discernimento e oração, deixa-se guiar pela ação do Espírito para criar laços de comunhão, unidade e sinodalidade (oblação e reparação), onde quer que ele esteja.

Fonte: P. Aléssio da Rosa, SCJ
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